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Pilha de jornais

Um prado curioso

  • Ideias e Letras
  • 28 de jan. de 2022
  • 5 min de leitura

Uma vez, num prado de milho e erva, uma pequena codorniz procurava grãos de milho espalhados, pois nos campos havia espantalhos.

Procurava grãos porque era uma ave granívora, o que ela não sabia, pois ainda era nova e, por isso, achava que todos os animais eram como ela, que comiam os grãos que encontravam.

Ao andar pelo prado, deparou-se com uma vaca que estava a comer erva.

A codorniz, espantada, perguntou-lhe:

- Por que estás tu a comer erva, num belo sítio como este, onde temos milho para comer?

A vaca, muito sábia e já com muitos anos de vida, respondeu à codorniz, com um tom de gozo:

- Eu a comer milho? Só mesmo nos teus sonhos! Eu sou um animal herbívoro, o que seria de mim se comesse milho?

A codorniz, muito espantada, perguntou-lhe:

- Herbívora? E o que é que é isso, podes dizer-me?

A vaca, agora já com um tom mais amigável, explicou-lhe assim:

- Significa que eu como erva e outras plantas semelhantes a erva. Para me ajustar ao meu regime alimentar, tenho o meu sistema digestivo com órgãos adaptados a uma digestão muito lenta, pois as plantas que como não fornecem muitos nutrientes.

- Que interessante, podes contar-me um pouco mais? - pediu a codorniz muito entusiasmada.

- Claro que posso - respondeu a vaca - o meu estômago está dividido em quatro partes; quando como a erva, ela primeiro vai para a pança, mas antes passou pelo esófago, onde fica acumulada. Quando estou a repousar, a comida passa para o barrete, onde a erva fica amassada e depois regressa à minha boca para a ruminar. De seguida, engulo esses alimentos novamente, mas desta vez eles seguem para o folhoso, onde a água é absorvida. Do folhoso passam para a coalheira, onde são transformados quimicamente por ação de sucos digestivos. Então, os alimentos vão para o intestino, onde se absorvem os nutrientes, depois as fezes são expulsas pelo ânus. Tenho incisivos e molares grandes, mas como não preciso de caninos nesse espaço tenho a barra.

- Que processo tão complicado! O meu estômago não faz tal coisa! Eu só como a comida uma vez, até estou enjoada de ouvir isso, imagina se tivesse mesmo que fazer tal processo! E nem dentes tenho, talvez porque os meus antepassados já os tivessem partido por tentar comer os grãos e, portanto, agora tenho este bico forte! - afirmou a codorniz bem alto.

- Pois não, o teu organismo é mais simples, mas não tenho a certeza sobre a tua história dos dentes – disse a vaca.

- Então explicas-me como é que funciona o meu organismo? - perguntou, curiosa, a codorniz.

- Já se faz noite – disse a vaca - é melhor voltares para a tua casinha e dormires.

- E quando me contas então? Se não é hoje, quando é? – perguntou a codorniz impaciente.

A pobre codorniz ficou triste, pois queria saber mais sobre o seu sistema digestivo, mas sossegou quando a vaca lhe disse que lhe contava tudo no dia seguinte.

- Está bem - disse a codorniz conformada - mas tens mesmo de me contar! Prometes que o vais fazer?

- Sim, eu cumpro sempre a minha palavra – asseverou-lhe a vaca.

Bem vos posso dizer que a nossa codorniz nada dormiu nessa noite, tal a ansiedade que tinha para saber como funcionava o seu organismo.

Ainda o dia mal nascia, e já a codorniz estava a sair de casa apressada, a voar, para se encontrar com a vaca e ficar a saber como funcionava o seu organismo.

- Conta-me, conta-me! -suplicou euforicamente a codorniz.

- Sim, sim! Já vou começar! - disse, a sorrir, a vaca. Então é assim, como és uma ave granívora, os grãos que comes vão para o papo, que é uma dilatação do esófago, onde são armazenados e amolecidos, depois passam para o estômago, que é formado por duas partes: o proventrículo, onde são misturados com um suco digestivo, e a moela, onde são triturados pelas contrações das paredes grossas e musculosas e, já agora, mesmo que tu o saibas, mas só mesmo porque estava escrito no artigo que li, as areias que comes ajudam na trituração dos grãos. Depois, da moela, os nutrientes passam para o intestino, onde são absorvidos, e as fezes são expulsas pela cloaca. E, só mesmo para ficar bem completo, tu tens um bico.

- Que confusão! - disse a codorniz estupefacta.

- Ainda há curiosidades para contar – disse a vaca - mas recentemente tenho andado um pouco ocupada, que tal contar-te uma em cada dia? Seria melhor para mim, teria tempo para tratar da minha família, o que achas?

- Pode ser! Que seres fantásticos que nós somos! - exclamou a codorniz.

Ouviu-se uma voz misteriosa por trás dos arbustos.

- Vocês são fantásticos? - balbuciou um porco que vivia na quinta ao lado do prado. Eu é que sou fantástico! Sou omnívoro, termo que vocês podem não conhecer devido à vossa pouca inteligência.

- Não sei de que falas – disse a vaca, tentando manter a postura para o que iria dizer ao porco.

- Já sabia, seres como vocês nunca teriam a capacidade de entender - reafirmou o porco.

- Pois, mas se a tua inteligência é assim tão impressionante, por que não nos contas coisas sobre o teu organismo? - desafiou-o a vaca.

- Ah bem, pois… Eu posso comer tão bem ervas e plantas como carne – afirmou o porco como se tivesse dito uma coisa vinda de um génio.

- Só isso? - perguntou a vaca.

A codorniz permanecia em silêncio, pois o seu conhecimento era bastante limitado.

- Sim, é mais do que tu sabes, aposto - retorquiu o porco.

- Ah pois, mas eu bem te posso dizer muito mais… O teu organismo é bem parecido ao dos humanos: o alimento entra pela boca, passa pela faringe, pelo esófago e vai para o estômago, que é bem diferente do nosso, só tem um compartimento e é bastante simples, depois vai para o intestino delgado e segue para o intestino grosso e as fezes são expulsas pelo ânus. A tua dentição é constituída por incisivos, caninos pouco definidos, pré-molares e molares.

- Uau, afinal sabes muito… - comentou o porco espantado.

- E isto não é tudo, sei muitos mais pequenos factos sobre ti - afirmou a vaca.

- E contas-mos? Sei que não fui lá muito simpático, mas até fiquei curioso – disse o porco, arrependido da forma como tinha começado a conversa.

- Claro que conto. Vem cá todos os dias, por volta do nascer do sol, e eu conto factos sobre os organismos a ti e à codorniz - disse a vaca.

Assim foi, todos os dias, o porco e a codorniz apareciam ao pé da vaca para ouvirem as curiosidades. Depois, contavam o que tinham aprendido aos seus amigos e amigas e, todos os dias, havia agora muitos animais à volta da vaca e das suas histórias dos organismos e adaptações aos seus regimes alimentares.


Escola Grão Vasco


 
 
 

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