No dia 25 de junho, Carlos Lopes, ex-atleta e campeão olímpico, teve a amabilidade de aceitar o convite da Escola Básica de Vildemoinhos para uma entrevista (durante os festejos das Cavalhadas). Pontual, bem-disposto e comunicativo, chegou às 10h30 à escola, referindo que a conhecia muito bem e que a mesma lhe trazia boas recordações.
Bom dia, Sr. Carlos Lopes, é uma honra conhecê-lo e recebê-lo aqui na nossa escola.
Já ouvimos falar de si, para nós o senhor é um ícone de Portugal e de Vildemoinhos.
Somos os finalistas desta escola e há muito que o queríamos entrevistar.
O lema da nossa turma é: “Juntos, continuamos a viagem a caminho das estrelas!”.
Pelo que lemos na sua biografia, a sua carreira profissional também foi uma longa viagem a caminho do sucesso. No entanto, queremos saber mais sobre si e, se autorizar, propomos-lhe uma entrevista para publicar no Blog Ideias e Letras.
Viveu a sua infância em Vildemoinhos. Frequentou esta escola? Se sim, qual era a sua sala?
Sim, andei nesta escola, na sala do lado (sala do 3.ºA). Naquele tempo, a escola só tinha duas salas, uma para raparigas e outra para os rapazes. Fui aluno do professor Peixoto. O pátio era igual e jogávamos muito à bola, aqui e no terreno da igreja que naquele tempo era de terra.
Lemos que teve de repetir a 1.ª classe por causa de uma aposta. É verdade? Conte-nos como foi.
Sim, é verdade, foi uma brincadeira entre o meu pai e o meu professor. Apostaram sobre quem ganhava num jogo da malha. O meu pai perdeu, e eu é que tive de cumprir o “castigo”, embora não tenha sido um castigo muito mau, até foi bom, andei mais um ano nesta escola e aprendi muito com isso.
Quando decidiu que queria ser atleta?
Isso resultou de uma brincadeira. Eu e os meus amigos, éramos sete, fomos a um bailarico em Abraveses. No regresso, resolvemos vir a correr e fui o primeiro a chegar a Vildemoinhos. Depois, decidimos criar um grupo de atletismo e foi assim que surgiu o gosto.
Ao longo da sua carreira qual foi a prova mais difícil?
Foram todas. É preciso sempre muita dedicação, muitas horas de treino, muitos sacrifícios, disciplina e objetivos. Para ser bom desportista também é preciso muita matemática. Eu tinha um cronómetro na minha cabeça e guiava-me por ele para melhorar sempre os meus tempos. Ainda hoje não gosto de chegar atrasado, sou sempre pontual…
Qual foi a sensação quando subiu ao pódio em Los Angeles?
Não tenho palavras! A sensação é algo que não dá para descrever, foi uma alegria enorme, um orgulho. No final, vi que ia ganhar, ainda podia dar várias voltas à pista, mas dei só uma, pois achei que os meus colegas vinham tão exaustos que senti vergonha de o fazer.
Qual foi a reação dos seus familiares quando ganhou? E de Vildemoinhos?
Eu estava a milhares de quilómetros deles e a minha mulher estava lá. Soube que em Vildemoinhos e em Portugal tinha sido uma grande festa e que naquela noite poucos dormiram. Até então, não havia muito o hábito de seguir as conquistas dos atletas, não eram muito faladas e a televisão não acompanhava como agora, mas sei que foi importante em todo o país e até lá fora. Em Nova York, os imigrantes saíram todos à rua para celebrar Portugal e pelo mundo aconteceu o mesmo. Esse reconhecimento foi muito bom até para o desenvolvimento do desporto.
Sabemos que começou a sua carreira no Clube Lusitano. Qual é a sua relação atual com este clube? É sócio?
Sim, tenho uma relação muito boa. Formei lá a minha escola de atletismo e teria muito gosto que vocês se inscrevessem.
Lemos no jornal “Observador” que o seu sonho era ser eletricista de automóveis. Esta informação é verdadeira?
É verdade, eu gostava muito, mas fui torneiro-mecânico de automóveis. Trabalhei numa fábrica de peças de automóveis na Azambuja e gostei sempre muito.
Também lemos que, certa vez, o Presidente da República, Mário Soares, lhe prometeu um boi de churrasco. Foi verdade? Ele cumpriu a promessa? Quem é que ajudou a comer essa churrascada?
Foi mesmo verdade, nessa altura, o Dr. Mário Soares era ainda Primeiro-Ministro. Antes de partirmos para os Jogos Olímpicos fomos recebidos no Palácio de São Bento. Eu deixei-me ficar para o fim, para trás de todos os outros atletas da comitiva, depois, quando chegou a minha vez, agradeci-lhe e pedi-lhe se, no final, caso trouxéssemos medalhas, nos podia oferecer uma churrascada de cabrito. Ele riu-se, disse que eu tinha “uma grande lata”, mas respondeu-me que teria todo o prazer em oferecer um churrasco com um grande boi. De facto, fez o churrasco com cerca de trezentas pessoas e o boi, ou vaca, dos Açores, era bom!
Que conselhos dá aos jovens que querem seguir a carreira de atleta?
Tenho três regras para vos transmitir: primeiro, têm de gostar muito, serem honestos convosco próprios e lutarem sempre, com muito empenho; segundo, têm de trabalhar muito, caso contrário só estarão a perturbar os outros e, por fim, têm de respeitar sempre quem vos está a ensinar, serem obedientes e responsáveis.
Turma do 4.ºA - Escola de Vildemoinhos
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